ENCERRANDO CICLOS: A MORTE DO MEU FILHO E DO MEU MARIDO

Compartilho com vocês mais uma virada de jogo na minha vida com o mais belo ‘até breve’ que já dei até hoje.

Iniciamos 2020 com aquela corrente coletiva de entusiasmo em torno do início de um novo século. Eu particularmente amo ano novo e o meu aniversário (em janeiro), são as únicas datas que de fato comemoro.

Janeiro de 2020 foi um mês que se tornou – mais um – divisor de águas na minha história. Com um pequeno intervalo entre si, meu cachorro com quase 18 anos de idade, meu filho e meu grande amor, foi brincar com a sua inseparável bolinha em outro plano. Logo após foi meu marido, que sempre teve orgulho de ser egípcio, reunir-se com o deus Hórus que ele tanto admirava e voar até o topo da pirâmide, seu sonho da infância.

Meu cachorro sempre foi meu filho e não simplesmente um animal doméstico. Passei metade da minha vida com ele e juntos enfrentamos muita coisa, da diversão ao atentado que sofremos em 2014. Meu parceiro, meu protetor, meu chiclete, meu ciumento e rei da casa. Aprendi o sentido do amor materno com ele e só tenho a agradecer por isso.

Eu já vinha me preparando mentalmente, emocionalmente e psicologicamente para a sua partida. Afinal, ele já era idoso e uma hora seu ciclo terreno se encerraria, assim como é para todos nós. Vivi para ele, abdiquei de uma série de coisas para aproveitá-lo ao máximo e não me arrependo de nada. E ele se foi exatamente como visualizei e idealizei na minha mente: livre de doenças, apenas com as limitações típicas da idade, em casa com muito amor, comigo, e dormindo, muito tranquilo e sem qualquer sofrimento.

Elijah, meu marido, sofria de uma doença cardíaca congênita. Aliás, todos os homens da sua família, desde o seu avô, seu pai (que morreu da mesma doença pouco antes de nos casarmos em 2016) e também seu irmão mais novo apresentavam o mesmo quadro. Eu sabia desde o início. Ele teve uma vida tão desafiadora quanto a minha e isso uma hora acarretaria em consequências. Acredite, viver sob condição de estresse, limite, adrenalina contínuos acabam com uma pessoa.

Elijah era estrategista profissional e atuava na área de segurança internacional. E desde sempre decidimos não falar sobre doença. O foco era curtir o meu filho, o nosso casamento e também dar prioridade para o meu tratamento, retomar 100% da minha saúde. Namoramos muito, nos divertimos, sonhamos juntos, seguramos na mão um do outro quando as coisas apertavam. Devo muito a ele pela mulher que me tornei, pois pela primeira vez realmente amei e fui amada no sentido mais profundo. Elijah me ensinou e me treinou em tudo o que sabia, me preparou em diversos aspectos, da disciplina militar a autodefesa, passando por estratégia, empoderamento, conhecimentos, habilidades, entre outros.

Se você leu até aqui e está pensando nesse momento ‘nossa, coitada, quanta dor’, você está completamente errado. Eu aprendi com os dois a viver o agora, o momento, de modo verdadeiro e real. E quando isso acontece e é genuino dentro de você não há espaço para sofrimento. E mais, eu pratico o que eu acredito: estamos aqui apenas de passagem, portanto, não foi um fim, e sim um ‘até breve’. Sei que eles estão bem, brincando juntos como sempre faziam.

Aliás, pra mim, amor é isso. Muitas pessoas confundem amor com apego. Eu não sou apegada a nada e nem a ninguém. Onde há apego, há necessidade, escassez, carência, falta. E eu não sou assim. Meu mindset é outro. Treinei isso. Postei no meu instagram esses dias uma das minhas filosofias de vida, que diz o seguinte: eu nunca perco. Eu explico, onde há aprendizado, há lucro. Não importa o que aconteça, eu busco o lucro. Porque aprendizado é contínuo e conhecimento é o único patrimônio que vai com você para onde for e ninguém te rouba.

Eu não perdi eles porque nunca foram minha propriedade. Eu já sabia que seria assim, e cada um encara a morte de acordo com a sua crença. Eu só tive lucro. Minha estrela ainda tem muito o que brilhar, vocês ainda vão ter que me aturar e minhas estrelinhas estarão sempre comigo em forma de amor.

É só mais uma virada de jogo. E nisso eu sou expert.

Grande abraço e vamos para a próxima fase, pois ainda tem muito game pela frente.

Cristina Cruz,
Mentora internacional. Change Maker. Expert em virar o jogo.

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